segunda-feira, março 02, 2009

Família espera oito meses por enterro



Pouco mais de oito meses foi o tempo que uma família de Pinhais, na Grande Curitiba, precisou esperar para conseguir sepultar o corpo do pedreiro Baltazar Natal Galdino, de 35 anos, morto na madrugada de 19 de junho de 2008, num incêndio que atingiu sua casa, no Jardim Cláudia. A liberação do corpo por parte do Instituto Médico-Legal (IML) foi seguida de atropelos e desencontro de informações, segundo conta a irmã do pedreiro, Galdino, 42. Além da demora, o processo de identificação foi encaminhado por engano ao fórum de São José dos Pinhais. “Durante todo esse tempo tive de acompanhar diariamente o caso, pessoalmente ou por telefone. Só descobri que o processo foi encaminhado à cidade errada porque não chegava a Pinhais”, afirma Luzia.
De acordo com a irmã do pedreiro, após muita insistência com funcionários do órgão em Curitiba, ela conseguiu o número da correspondência que continha o documento. “Passei a monitorar pelos Correios e encontrei o processo em São José dos Pinhais, de onde pedi para enviar a Pinhais”, afirma. O laudo do exame só ficou pronto em 22 de dezembro de 2008, mas a liberação judicial veio mais tarde, em 17 de fevereiro deste ano. O enterro só ocorreu na tarde do sábado de carnaval, dia 21, com mais espera. Luzia ficou das 9 até as 13 horas para conseguir a liberação do corpo e se surpreendeu com mais um deslize: o corpo estava sem numeração. “Pediram que esperasse mais uns dias até que encontrassem o corpo. Expliquei que nossa família já estava esperando pelo sepultamento no Cemitério e eles disseram que eu tinha então de reconhecer o corpo”, diz.
O processo de reconhecimento foi mais um capítulo à parte. De acordo com ela, cinco corpos estavam sem identificação. “Não havia luz na câmara fria e o agente funerário arrastava os corpos para onde havia um pouco de iluminação. Ninguém o ajudou, nem providenciou lanternas. Nessas condições fiz a identificação. Tenho certeza que era ele porque dava para ver o rosto (ele morreu de bruços) e as mãos são bem típicas de nossa família. Se dava para identificar, porque não foi liberado antes?”, questiona. A irmã do pedreiro conta que a família pediu para identificar o corpo, há oito meses, mas o IML não liberou o reconhecimento. “Ele não estava totalmente carbonizado. Além do rosto, ainda foi possível coletar o exame de sangue para fazer o exame de DNA”, explica.
A mãe do pedreiro, a dona de casa Albina Paulina, de 72 anos, só conseguiu ficar tranquila depois de ter resolvido tudo. “Perdi quatro filhos, um marido e um genro nos últimos anos. Tinha medo de morrer antes de conseguir enterrar meu filho”, diz. Há 4 meses, recebeu de um funcionário do IML a informação de que o filho teria sido enterrado como indigente. “Até descobrir que essa informação estava errada fiquei muito angustiada”, conta.
A assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) informou que a demora ocorreu porque o processo de identificação de um corpo carbonizado é feito a partir de material coletado por meio da trituração de ossos. A máquina que faz esse tipo de trabalho estava quebrada e teve de ser enviada a São Paulo para ser consertada. Sobre o envio do processo ao município errado, a assessoria informou que bastava a família solicitar apoio da Delegacia de Pinhais, que resolveria o problema em duas semanas.
Fonte: Gazeta do Povo

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