Em 2008, seis crianças entre 7 e 11 anos foram abusadas sexualmente por um morador da Vila Raquel, na cidade de Irati, no Paraná. Entre elas a filha dele, de 11 anos, que também foi molestada pelo próprio pai. As famílias das vítimas, perplexas ao tomarem conhecimento do assunto, foram depor na delegacia de polícia. Dentre os abusos estavam mostrar seus órgãos sexuais para as crianças, sexo oral, masturbação com suas vítimas e aliciamento das menores, fato que indignou os moradores da cidade de Irati.
Foram meses de angústia até sair o mandado de prisão preventiva de Zaquel de Almeida, o acusado que já tem ficha na polícia. Natural de Apucarana, no Paraná, com 39 anos, é casado, possui uma tatuagem na perna esquerda, e atualmente está foragido.
O caso
Segundo relato da mãe de C.R., de 10 anos, “Maria”, nome fictício, “Zaquel vinha cometendo isso há mais de um ano com sua filha e depois começou com as crianças dos vizinhos”. A primeira vítima dele foi a própria filha. “Os abusos com nossos filhos começaram nas aulas de violão, ele coordenava as aulas na igreja Assembléia de Deus, na Vila Raquel”. Outra mãe, de M. F., 10 anos e S.P., 7 anos, “Joana”, nome fictício, conta que “Nós ficamos sabendo de tudo isso, de uma forma bem espontânea pelas próprias crianças. Os vizinhos começaram a comentar a respeito de um senhor que teve derrame, e ficava sentado na área da casa dele. Num determinado dia esse senhor mostrou suas partes íntimas para a vizinha da frente. E o comentário foi geral. Todos começaram a dizer que como que um homem assim, de idade, nem andava direito fazer isso, deve ter problema na cabeça”, a vizinhança toda se revoltou. “Até que numa conversa em frente a minha casa, comentávamos sobre isso, e minhas filhas próximas escutaram. Acho, creio eu, perceberam que aquilo que o homem fazia era uma coisa errada e disseram: “Mãe, mas não é o seu João que faz isso! O Zaquel também!” Eu fui a primeira a descobrir. Recolhi-as para dentro de casa, juntamente com a filha de “Maria” e começaram a me contar. Uma delas disse, “mãe ele fez igual o seu João lá”, continuou, “nós estávamos na aula de violão na igreja e o coordenador ficava cuidando na porta das crianças, e daí quando a C., L. e S. pediram para ir ao banheiro, ele ouviu, quando elas chegaram lá se depararam com ele, em pé, com o “negócio de fora” se tocando. Elas saíram correndo. “Foi isso que a minha filha viu e me contou”, declara.
“Joana” continua ainda – “outro caso foi o da filha dele, T., de 11 anos, que pouco brincava com as nossas, mas naquele dia estavam todas juntas brincando e a menina disse que tinha comprado um filme de DVD novo, do Madagascar e falou para elas irem até a sua casa assistir o desenho. Estavam em cinco meninas. A própria filha dele, T., entrou em minha casa e pediu se elas (suas filhas) poderiam assistir o desenho. Eu deixei e disse ainda: _mas não saiam de lá! Imagine! O perigo estava lá mesmo, mas eu não sabia, né. Não imaginava isso, a casa deles praticamente é bem na frente da minha. Minhas duas filhas e as outras meninas foram assistir o DVD, e disseram que vendo o desenho, a menina T., filha de Zaquel, dava risada. Num momento, M.F. olhou para uma porta próxima à TV, lá estava Zaquel com as partes íntimas para fora, se insinuando para as crianças. M.F. cutucou sua irmã S.P. e amigas, a filha dele, T., viu e disse: _Olhem lá! (apontava para Zaquel) e dava risada. Até que saíram correndo da casa.
Porém, após saberem do caso, duas meninas a L., de 10 anos e C., de 10 anos também, eram amigas de T., filha de Zaquel, freqüentavam a casa. L., de 10 anos, filha de “Manoela”, nome fictício, juntamente com C., 10 anos foram as mais abusadas sexualmente por Zaquel, em seguida de T., que mantinha relações sexuais com o pai.
As mães “Maria” e “Joana” foram até a casa de “Manoela” contar sobre o ocorrido e pedir para que não deixasse sua filha L. ir na casa de Zaquel mais. Foi neste momento que “Manoela” contou que sua filha L. dizia: “Mãe não me deixe ir mais lá na casa de T.” Pois, T. ia na casa de L. pedir para ela dormir na casa dela. E L. dizia: “Mãe, por favor, não me deixe pousar lá! “Ela colocava a mão na cabeça e pedia, por favor”, conta Manoela. Nós dissemos, aí tem coisa. “Então resolvemos não deixar uma menina ver a outra, para escutar a versão de L., ver o que ela iria dizer, sem influência das outras, foi aí que a mãe descobriu tudo. L. contou coisas horríveis para ela”, disse. “Manoela” entrou em crise, pois quando criança sofreu abuso sexual de seu padrasto.
Zaquel tem mais dois filhos, um deles, de 17 anos, contou que suspeitava que o pai tivesse AIDS, por que a Saúde já havia chamado ele, “quando o pai estava preso na cadeia tinha feito o exame e acusou”. Tempos depois, ele fez outro e não tinha acusado mais, a Saúde o procurou novamente. Robert, filho de Zaquel, ficou revoltado com isso.
Foi, de fato, numa sexta-feira que pais e mães tomaram conta da proporção de tudo. “Ficamos preocupados, se nossas filhas de fato tinham contado tudo, pois, íamos conversando com elas e nos contavam mais coisas. Agora mais ainda com o fato de sabermos que ele podia ter AIDS. Não conseguíamos comer, nem beber água, ficamos muito nervosos com isso. Notávamos que as crianças tinham medo de nos contar o que havia ocorrido”, fala “Joana”. As crianças disseram que eram ameaçadas se contassem o que viam ou eram forçadas a fazer com ele. Uma delas L., colocou a mão na cabeça e disse para a mãe: “_Ele vai matar nós!! Ele disse que se o pai e a mãe nossa soubessem iam matar eu, meu pai, minha mãe, meu irmão, matava todo mundo!” E para a filha dele também dizia a mesma coisa.
Foram três crianças ameaçadas. “Joana” relata que “ele era uma pessoa da qual jamais iríamos desconfiar. Pensávamos até, será que se chamarmos a polícia não estaremos cometendo alguma injustiça?! Porque isso é uma coisa muito grave”.
Zaquel era um homem carismático, prestativo, pregava na igreja, chorava, “o pessoal da religião tinham ele como exemplo, se espelhavam nele. Para nós ainda não caiu a ficha de que ele é tudo isso. Ele ia pescar com meu marido, conta “Joana”. Ele era uma pessoa que agente considerava. Hoje lembramos que ele, sempre estava junto com as crianças, queria sempre ajudá-las, ficava os observando”, acrescenta.
Zaquel ao perceber a mudança no comportamento dos vizinhos e desconfiado que havia sido descoberto, saiu da cidade.
A esposa de Zaquel, após saber do caso, ficou perplexa, ela até então não sabia, passou mal. E sua filha, a qual Zaquel abusava, o defendeu. No domingo, a filha de 11 anos abusada pelo pai foi depor e contou tudo ao delegado. A mãe disse que ia embora para Londrina, no Paraná, ficar perto da família, neste mesmo dia a mãe disse que não sabia de nada, mas, estava lavando as roupas de Zaquel e as pendurando no varal para ir embora. Uma das mães começou a desconfiar e disse: “Será mesmo que ela não sabia de nada? Será que ela realmente está do nosso lado?” Resta agora a polícia achá-lo e prende-lo.
Terapias
As crianças que sofreram o abuso sexual, juntamente com seus pais, fizeram sessões de terapia com a psicóloga Maria Lucia Lupepsa, no Programa de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes, da Prefeitura de Irati. A psicóloga conta que o perfil dos pedófilos é de uma pessoa comum e, muitas vezes, são vistos como exemplos positivos no meio em que vivem. Estudos mostram que pessoas consideradas pedófilas já sofreram agressões de parentes ou pessoas próximas em algum momento da vida. Numa forma de revanche, a pessoa agredida na infância torna-se agressora quando chega à vida adulta. Na maioria dos casos o pedófilo é um amigo da família, tem o consentimento da família e, pior, é amigo da criança. Partindo daí, a criança aceita o abuso, por mais chocante que isto possa parecer. Sendo um ser humano em formação, sua curiosidade ajuda mais do que tudo ao pedófilo. Os passeios, as horas do banho e de ver TV são normalmente ocasiões transformadas em ritos para a satisfação do pedófilo. “Ele é uma pessoa egoísta que corre atrás apenas de seu prazer”. O caso de Irati não foge de nossos conceitos, pois Zaquel mantinha relações sexuais com sua filha, quando sua esposa saía trabalhar.
Portanto, preste atenção nos seus filhos(as), converse sempre com eles(as), veja onde vão e com quem saem. Caso note alguma alteração ou veja alguém abusando de alguma criança, denuncie. Ligue 0800-6434041 ou avise o Conselho Tutelar 9133-2698 / 3907-3126. Contribua para uma infância feliz. Denuncie!
Texto: Silvia Costa