terça-feira, outubro 20, 2009

Zeni Zavelinski afirma ter ficado 38 anos em cárcere privado


Irati - Foram quase quatro décadas em cárcere privado em um apartamento central na cidade de Curitiba e sofrendo maus tratos, declarou Ze¬¬ni Zavelinski, hoje com 54 anos de idade.
Na quarta-feira passada um guardador de carros relatou à um advogado conhecido, Aristides Athayde que uma mulher residente num prédio próximo, sempre reclamava que sofria maus tratos, trabalhava sem receber salário e era impedida de procurar a família. O advogado e dois policiais militares deslocaram-se até o edifício, Aristides ao encontrá-la ficou espantando – “Ela estava muito nervosa e apresentava sinais de hematomas nos braços. Disse-me que era impedida de ver a família há 38 anos, o casal disse aos policiais que ela não batia bem da cabeça. E ficavam insistindo para a mulher entrar em casa novamente.”, relatou o advogado.
Zeni foi encaminhada a promotora de Justiça, Terezinha Resede Carula onde declarou que recebia tapas na cabeça e beliscões. Dava exemplos das agressões. O advogado acrescentou ainda que quando quebrou uma máquina de lavar apanhou muito e que era acordada com baldes de água.
A promotora pediu que a Delegacia da Mulher instaurasse um inquérito para descobrir o que estava acontecendo. E encaminhou dona Zeni para um abrigo da Fundação de Ação Social (FAS), de onde ela deve sair na semana que vem para, finalmente, rever sua família.

O caso
Zeni lembra que em 1971, com 17 anos de idade foi levada de sua casa em Laranjeiras do Sul através de uma autorização judicial para morar com uma família, em Irati. A mãe nega as acusações dizendo que ela foi tirada da família.
Quando a antiga “patroa” morreu, ela passou a trabalhar para a filha e o marido, primeiramente em Irati e depois em um apartamento em Curitiba. “Eu limpava a casa e lavava a roupa e só saía para fazer compras”, afirma. “Comida eles davam bastante, mas ela brigava. Batia com a vassoura e dava beliscão. Ela gosta de judiar”, declarou Zeni.
Quando falava em procurar a família, Zeni ouvia que os parentes estavam mortos. “Eu tento encontrar eles desde 1988. Desconfiava que eles não estavam mortos, mas eu não tinha documentos”, relata. “Eles (o casal) diziam que se eu fugisse ia para um abrigo. Em Irati, eles me mantinham chaveada dentro do quarto e me acordavam com água fria na cama. Se eu fugisse, não teria o que comer”, contou. Ela disse que nunca estudou e nunca votou. Em Laranjeiras do Sul, pretende recomeçar a vida: “Quero começar a estudar”.
O tio de Zeni, Amauri Zavelins¬¬ki, 74 anos, diz que a família tinha per¬¬dido a esperança de encontrá-la. “Às vezes alguém passava por lá di¬¬zendo que ela estava em algum lu¬¬gar, mas eram só conversas”, con¬¬ta. “A gente achava esquisito e¬¬la não se comunicar, parecia que ti¬¬nha alguma coisa errada mesmo.” Ele não lembra como Zeni foi le¬¬vada. “Foi meu pai e minha mãe que decidiram. Só lembro que u¬¬ma mulher passou por lá e ela de¬¬sapareceu”.
No inicio de outubro, foi publicado num panfleto de imprensa alternativa, Pio do Jacu, nº 73, de Curitiba, uma foto de Zeni agradecendo a ajuda da Fundação de Assistência Social (FAS), que através da secretaria e primeira-dama, Eliza Regina Gemelli da Silva reencontraram a sua família.
A delegada Daniele de Oliveira Serigheli, da Delegacia da Mulher de Curitiba diz que ainda é cedo para afirmar se houve maus-tratos ou se Zeni era mantida em cárcere privado. “Vou devolvê-la para os responsáveis. Notei que ela tem dificuldades para falar, relatar o que aconteceu”, revela a delegada. “Ela foi ouvida no Ministério Público e a promotora requisitou um inquérito para apurar se houve cárcere privado e maus- tratos, mas isso ainda vai ter de ser investigado”.

O casal
A reportagem do Jornal Gazeta do Povo conseguiu contato por telefone com o aposentado que mantinha Zeni em sua casa. Ele pediu para não ter o nome revelado e negou as acusações de maus tratos e de que a mantinha em cárcere privado. “Ela estava há uns 30 anos com a gente. É considerada da família. Só que ela tem uns problemas mentais, andou conversando na rua e os guardas a levaram. Não soube se explicar”, diz. “Era bem tratada, tinha o quarto dela e a televisão.”
O aposentado negou que Zeni ficasse presa, que trabalhasse na casa e que fosse impedida de procurar a família. “Isso não procede. Ela fazia compras junto no mercado. Tinha outras empregadas, ela era considerada de casa”, garante. “A gente não sabe se (a família) morreu ou não. Ela tentou (localizar), mas não teve notícias, outros tentaram para ela, em Guarapuava.” Segundo ele, Zeni morava com a mãe de sua mulher. O aposentado disse que, se Zeni quiser, poderá voltar. “Ela será bem recebida”, concluiu.

Texto: Silvia Costa, da Redação com informações da Gazeta do Povo, site anjoseguerreiros e o Panfleto Pio do Jacu.
Foto: Site anjoseguerreiros

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