terça-feira, abril 23, 2013

Rebelião no Cadeião acaba após 19 horas


Patrícia Biazetto-Diário dos Campos
Chegou ao fim no sábado, por volta das 11h15, a rebelião de detentos na
Cadeia Pública Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa. Foram 19 horas de
negociações entre o grupo formado pelo comandante do Batalhão de
Operações Especiais, major Semmer, o diretor da Penitenciária Estadual de
Ponta Grossa, Luiz Francisco Silveira, e o juiz da Vara de Execuções Penais,
Antônio Acir Hrycyna, e os detentos de três galerias, totalizando cerca de 130
homens. Apesar do fim da rebelião, a operação teve continuidade ao longo da
tarde, com a vistoria nas galerias danificadas.
Pouco antes do anúncio oficial do fim da rebelião, três vans do Sistema de
Penitenciário do governo do Estado chegaram ao Cadeião. Segundo
informações do tenente Fábio Canteri, da Polícia Militar, os três agentes
carcerários que foram mantidos reféns foram liberados sem ferimentos. Um
deles foi liberado na noite de sexta-feira e os demais na manhã seguinte. Com
a rendição dos detentos, policiais fariam a vistoria interna em todas as
dependências do Cadeião.
Entre as exigências dos cerca de 130 homens que participaram da rebelião
estavam a transferência de detentos. No início da tarde deste sábado, 30
presos foram transferidos para a capital do Estado. Policiais do Choque ficaram
responsáveis pela escolta dos carros.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), subseção de Ponta Grossa, José da Silva Machado, relatou que
desde o início das negociações o Departamento Penal (Depen) abriu as portas
do Cadeião para que representantes da comissão pudessem acompanhar as
negociações.
“Desde o início da operação, a direção trabalhou com a consciência de
resguardar a integridade física dos detentos e reféns”, disse. Ele garantiu que
não houve violência contra os detentos, mesmo quando os ânimos dos
mesmos estavam alterados. Embora o relato seja que a integridade física dos
detentos foi mantida, a imprensa conseguiu verificar que muitos dos detentos
estavam machucados, alguns com marcas de tiros de balas de borracha.
Também foi possível verificar poças de sangue no pátio do Cadeião.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB acrescentou ainda
que ficou acordado que haverá um mutirão carcerário com o objetivo de rever a
situação dos detentos.

“Vamos nos juntar aos demais advogados para analisar a situação de cada um
dos presos”, contou. O presidente da OAB, Edmilson Rodrigues Schiebelbein,
que chegou ao Cadeião por volta das 9h30 deste sábado, também confirmou a
realização do mutirão carcerário. O DC tentou contato com o diretor do
Cadeião, Bruno Propst, como também com o delegado-chefe da 13ª
Subdivisão Policial, Danilo Cesto, mas sem êxito.
Familiares acompanham desfecho
Antes do anúncio oficial do fim da rebelião, no sábado, familiares de detentos
começaram a chegar logo pela manhã em frente ao Cadeião para acompanhar
a operação. A maioria era mulheres e estava preocupada com a integridade
física dos parentes.
Enquanto não tinham informações oficiais das negociações, surgiu o boato de
que dois presos estavam mortos. Muitas mulheres aparentavam preocupação e
novamente, no início da manhã, algumas delas proferiram palavras de baixo
calão aos policias. O parente de um preso – que não quis se identificar – disse
que a rebelião tinha sido anunciada há dois meses.
A insatisfação, segundo ele, é referente às mudanças feitas pela nova direção.
O homem denuncia ainda que o corte de água é constante e que os detentos
estão passando fome, já que a entrada de alimentos é restrita e a marmita que
é oferecida não tem tempero. “A insatisfação dos detentos também está
relacionada com o novo diretor, (Bruno Propst)”, finaliza.

Servidor teme pela vida de colegas
Um servidor do sistema penitenciário informou que teme pela vida dos colegas
que atuam no presídio Hildebrando de Souza. Segundo ele, desde que houve
mudança na administração, em fevereiro, os detentos estão descontentes e
continuarão assim até que haja troca de direção. O funcionário preferiu não se
identificar por medo de represálias, mas disse que os administradores vêm
tratando os presos de forma muito autoritária.
“Eles estão sendo agredidos, assim como visitantes”, informou. “Infelizmente,
eu não tenho como provar, mas a direção intimida os presos e também
funcionários”. De acordo com o funcionário, o primeiro motim, ocorrido na
quinta-feira, foi motivado porque, após o banho de sol, dois presos se negaram
a entrar nas celas. “E eles foram agredidos. Com isso, os demais detentos se
revoltaram”, disse. Segundo ele, a situação está tomando um “rumo
complicado”. “Vai chegar a um ponto em que vão acontecer mortes de presos e
de agentes”.



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