No terceiro dia de greve, as lideranças ligadas ao Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) continuam realizando manifestações nos estados do Sul e do Sudeste e também na Bahia. Os caminhões são parados em piquetes montados nas rodovias, mas liberados depois de algumas horas. Em Minas Gerais e Santa Catarina a mobilização ganhou força e o tráfego chegou a ser interrompido.
No Paraná, levantamentos feitos pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) mostram o enfraquecimento da greve do primeiro dia (quarta-feira) para o segundo. O número de caminhões que passaram na quarta-feira, entre zero e 15 horas, pelas rodovias pedagiadas do Estado foi 16% menor que no mesmo dia e horário da semana passada. Na quarta-feira, a entidade havia contado 28% menos caminhões entre zero hora e meio-dia.
Ontem, uma decisão da Justiça Federal no Espírito Santo enfraqueceu o movimento no Estado. A 5ª Vara Federal Cível proibiu o bloqueio de vias por parte dos caminhoneiros em greve. Foi dado um prazo até a meia-noite da quinta-feira para os manifestantes deixarem os piquetes, sob pena de o MUBC receber multa diária de R$ 50 mil.
“Infelizmente, a Justiça Federal fez isso com a gente. Estávamos fazendo um trabalho pacífico de conscientização”, lamentou o presidente do Sinditac de Linhares (ES), Aylton José Maze. Segundo ele, as rodovias foram desobstruídas às 2 da madrugada desta sexta-feira. Maze disse à Carga Pesada que o MUBC não irá liderar novos piquetes, mas que a “categoria está disposta” a fazê-los por conta própria.
Em Luís Eduardo Magalhães, o presidente do Sinditac local, Ademar Roberto, resolveu suspender temporariamente os piquetes depois de passar mal, com uma crise de pressão, e de ver seu filho preso pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O sindicalista diz que os piquetes eram pacíficos e que o filho foi preso com a alegação de que estaria atentando contra o direito de ir e vir dos usuários das rodovias. O rapaz já foi solto e o Sinditac pretende retomar as manifestações.
Ademar criticou alguns colegas que, segundo ele, estariam radicalizando. “A nossa orientação é para parar somente caminhão. Mas eu fui para casa dormir e teve gente trancando a pista, não deixando nem ambulância passar. Teve caminhoneiro jogando pedra nos caminhões que não querem parar”, criticou. Para o sindicalista, essas pessoas estariam a serviço das entidades que não apoiam a greve.
O presidente do MUBC, Nélio Botelho, disse nesta manhã à Carga Pesada que os caminhoneiros estão dispostos a “dar o sangue” pelo movimento. “A guerra continua”, afirmou. Questionado se a adesão à greve não está bem aquém do esperado, ele nega. “Os caminhoneiros estão parados em casa”, alega.
Botelho diz que o MUBC está preparado para enfrentar as decisões judiciais contra o movimento. “Já recebemos mais de 40 notificações. Isso já era esperado”, afirmou.
O presidente do sindicato que representa as empresas de transporte no Paraná (Setcepar), Gilberto Cantú, considera que a greve tem pouca adesão e não impactou nas atividades do setor. ”São poucos os caminhoneiros que aderiram. Os demais ficam parados nos piquetes nas estradas por algumas horas, mas depois são liberados. No máximo, a greve está atrasando um pouco as entregas”, afirmou.
A reportagem procurou a NTC&Logística para saber qual a avaliação que a entidade faz sobre a greve dos caminhoneiros. A assessoria diz que a associação nacional não está se manifestando a esse respeito por considerar que o movimento não prosperou e não impactou na atividade.
EMPRESÁRIOS PARADOS
Na região de Londrina, no Paraná, quem está encabeçando a greve dos caminhoneiros é uma associação de transportadoras, a TNP, que fez piquetes na PR 090, em Bela Vista do Paraíso, ontem e hoje pela manhã.
”Chegamos a parar cerca de 200 caminhões nos dois sentidos da via”, disse Eder Wilezelek, dono de uma das empresas ligadas à TNT:
Segundo ele, com a lei do descanso (12.619), o negócio se inviabiliza. ”Se nossos motoristas tiverem de parar a toda hora, não teremos condições de sobreviver”, disse. Wilezelek também critica o fim da carta-frete. No novo sistema, segundo ele, será preciso ”declarar 100% dos impostos”.
Na pauta de reivindicações do MUBC, estão a revogação da resolução 3.658 que extinguiu a carta-frete e a prorrogação por um ano dos efeitos da lei 12.619, que regulamenta a profissão de motorista.
FERNÃO DIAS PAROU
A soma dos congestionamentos causados por protestos de caminhoneiros em vários trechos da Rodovia Fernão Dias ultrapassou 30 km por volta das 9h30 desta sexta-feira (27), de acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgados pelo site g1.com. A via é a principal ligação entre os estados de Minas Gerais e São Paulo.
A rodovia está interditada, no sentido São Paulo, em Igarapé (km 513) e também em Itatiaiuçu (km 545), na Região Metropolitana de Belo Horizonte, e Carmópolis de Minas (entre os km 586 e km 589), na Região Centro-Oeste de Minas Gerais. Ainda de acordo com PRF, por volta das 9h30, havia um longo congestionamento nesses trechos. O tráfego estava parado do km 533 ao km 545 e havia retenções entre os km 504 e km 513. Próximo a Carmópolis de Minas, o tráfego estava retido entre os km 586 e km 589.
A Concessionária Fernão Dias, que administra a via, informou que o congestionamento em Igarapé chegava a seis quilômetros e em Itatiaiuçu a fila já chegava a 12 km, nos dois sentidos. Nem carros pequenos eram autorizados a passar.
No sentido Belo Horizonte, o trânsito também foi interditado em Carmópolis de Minas e em Oliveira, na Região Centro-Oeste do estado, apresentando 3 km de retenção neste horário (entre os km 596 e km 589).
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou também que caminhoneiros também protestam na MG-050, na altura de Itaúna, e na BR-050, próximo ao Trevo de Ouro Preto.
Motoristas fecharam também parte da BR-345, entre Candeias e Campo Belo, na Região Sul do estado.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) recomenda que os motoristas evitem os trechos e informou que, por causa do grande número de trechos afetados, não vai sugerir rotas alternativas. Por meio de nota, a PRF informou que respeita o protesto dos caminhoneiros desde que não afete o direito de ir e vir dos demais usuários. A polícia mencionou ter recebido comunicados de pessoas portadoras de doenças, idosos, crianças e gestantes relatando que estavam retidas nos congestionamentos. O órgão afirma que seus agentes têm negociado constantemente a abertura das rodovias para livre acesso dos veículos e também dos caminhoneiros que não desejam participar do movimento.
O presidente regional do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) em Minas Gerais, José Acácio Carneiro, disse ao G1 nesta sexta-feira (27) que é contra o fechamento das rodovias porque atrapalha a rotina das pessoas. “Isso está prejudicando a nossa imagem perante a opinião pública. Sou contra o fechamento da rodovia. Sou a favor do protesto, mas que seja feito com ordem”, disse Carneiro.
Ainda segundo ele, antes a lei determinava que o transporte rodoviário de carga fosse feito por profissionais. “Depois da mudança qualquer um pode fazer o transporte. Queremos profissionalizar a categoria”. Carneiro contou ainda que a lei estipula que a jornada de trabalho pode chegar a 13 horas diárias e que haja um intervalo de 11 horas para o descanso. “Precisamos que o governo faça pontos de apoio para os caminhoneiros terem condições dignas de descanso”. José Acácio Carneiro acrescentou também que a categoria quer ser consultada sobre as mudanças nas leis que regulamentam suas atividades. “Somos a favor da lei. Não somos contra a resolução. Só queremos que seja feita da forma correta”, disse.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou que discutirá com transportadoras e caminhoneiros novas regras para a regulação do setor. A agência também informou que busca o aperfeiçoamento dos requisitos para inscrição no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas e das normas relativas ao pagamento eletrônico de frete.
Expresso MT