A ostentação de uma vida de riqueza e poder do advogado José Luis Almirão e
sua esposa Beatriz Jetelina Monteiro vieram abaixo, na manhã de ontem, após
uma grande operação deflagrada pela Polícia Federal em Ponta Grossa. Os
bens do casal podem ter sido adquiridos ilicitamente, utilizando-se de dinheiro
de pessoas humildes e trabalhadoras, que contratavam o advogado para
garantir benefícios junto ao INSS. A operação da PF recebeu o nome de RPV –
Requisição de Pequeno Valor – devido à forma como eles agiam para se
apropriar indevidamente do dinheiro que as pessoas tinham direito de receber
da Previdência.
Os policiais cumpriram mandados de prisão preventiva contra o casal e, de
acordo com o delegado Antônio Marcos Bassani, que comandou a ação, outra
pessoa suspeita de participar do esquema foi encaminhada à Delegacia da PF,
indiciada e liberada. Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Federal de
Ponta Grossa após investigações sobre golpes que os suspeitos vinham
praticando na região.
Durante a operação, os agentes apreenderam todos os bens do casal que
conseguiram localizar, entre eles, três veículos de luxo, dezenas de quadros –
um deles com cerca de 250 anos e avaliado em R$ 150 mil –, 34 relógios
antigos e veículos. “Não sabemos qual o valor dos bens apreendidos. Ele vai
ter que se explicar sobe os quadros que não declarou. A Receita Federal
também vai verificar a questão tributária, se houve sonegação de impostos”,
afirmou Bassani. Centenas de documentos também foram recolhidos e serão
analisados pela Polícia Federal e por servidores do Ministério da Previdência Social. A Justiça Federal, a pedido da PF, decretou o sequestro de dois
imóveis do casal em Ponta Grossa, um em Rebouças e outro em Balneário
Camboriú (SC), onde se encontrava o advogado na manhã desta quinta-feira.
Beatriz foi detida na residência do casal, na Rua Varnhagem, Vila Palmeirinha.
Investigações
De acordo com o delegado, a operação é resultado de investigação iniciada há
pouco mais de um ano, em conjunto com o Ministério Público Federal, para
apurar a prática reiterada dos crimes de falsidade ideológica, uso de
documentos falsos e apropriação indébita. Segundo Bassani, foram
identificadas 81 vítimas. Elas relataram à PF que Almirão e Beatriz se
apropriaram de valores pagos por determinação do Tribunal Regional Federal
da 4ª Região, em Porto Alegre (RS), decorrentes de condenações do INSS a
título de benefícios previdenciários de auxílio-doença e aposentadorias.
Essas vítimas foram localizadas pela PF de Ponta Grossa e são, na maioria,
idosos, doentes e portadores de necessidades especiais. Elas sofreram
prejuízos que variam de R$ 1,5 mil a R$ 101 mil. “Muitas pessoas não tinham
conhecimento do seu direito de receber valores anteriores e se contentavam
apenas com o que conseguiam garantir mensalmente”, explicou Bassani,
lembrando que o dinheiro anterior ficava com os acusados.
Algumas vítimas informaram ainda que assinaram diversos documentos em
branco para o casal, outras contestaram as assinaturas lançadas em
procuração utilizadas para a realização de saques perante a Caixa Econômica
Federal e o Banco do Brasil. Também há relatos de constrangimentos e
ameaças empregadas na tentativa de forçar a entrega de valores e a
assinatura em procurações.
A Polícia Federal estima que aproximadamente 900 pessoas foram lesadas por
Almirão e Beatriz, com valores cuja soma aproxima-se de R$ 6 milhões. Ainda
não se sabe desde quando o casal estaria praticando os crimes.
Interrogados
José Luis Almeirão chegou a Ponta Grossa ontem à tarde, sob escolta de
policiais federais da Delegacia de Itajaí (SC). Beatriz Jetelina Monteiro, que se
encontrava na cidade, já foi interrogada. Eles passariam a noite na Cadeia
Pública Hildebrando de Souza, onde estão à disposição da Justiça. Os quadros
e objetos foram encaminhados a um local seguro.
Vítimas esperam reaver o dinheiro
A reportagem do DC encontrou uma das supostas vítimas do advogado José
Luis Almirão e da mulher dele, Beatriz Jetelina Monteiro, presos ontem
acusados de se apropriar indevidamente do dinheiro de beneficiários do INSS.
A moradora de Curiúva entrou com ação na Justiça, em 2007, para receber a aposentadoria e disse ter sido enganada pelo casal. “Minha mãe, que hoje está
com 67 anos, trabalhou anos como bóia-fria e tinha direito de receber R$ 15 mil
em atraso.
Logo depois que o advogado entrou com o processo, ela passou por uma
cirurgia e a mulher dele, a Beatriz, foi até a residência, levou minha mãe ao
cartório e, sem saber, pois é analfabeta, assinou uma procuração”, explicou a
filha da vítima, Mara. “Fomos ao INSS e os funcionários nos informaram que
ela já tinha recebido o valor”. Mara contratou uma advogada e espera que a
mãe receba os valores que supostamente ficaram com o casal. “Até agora, ele
não devolveu nada”, lamenta.
A advogada da mãe de Mara, Rosana Rodrigues Martins Borges, revela que há
“inúmeros casos semelhantes em Curiúva”. “Nós que descobrimos as
falcatruas, pois a cidade é pequena e as pessoas passaram a nos procurar
para contar que foram lesadas. É uma situação bem grave”, diz, acrescentando
que a PF esteve no município conversando com as vítimas.
A orientação do delegado Antônio Bassani é para que as pessoas que
acreditam terem sido vítimas de José Luis Almirão e Beatriz Monteiro procurem
primeiramente a Caixa Econômica Federal, para verificar a retirada de valores.
Se constatarem o golpe, precisam contratar um advogado para entrar com
ação e requerer o dinheiro. (E.S.)-Diário dos Campos
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