Na madrugada de sábado (27) um tremor de terra de 8,8 de magnitude, o sexto mais intenso já registrado na história abalou o Chile. Além do tremor, as regiões costeiras do centro-sul do Chile sofreram os impactos de ondas com até 10 metros de altura. O número de mortos até o momento é de 795. Segundo a presidente do Chile, Michelle Bachelet o número de mortes ainda deve crescer. De acordo com o Escritório Nacional de Emergência do país, a maioria dos mortos, 544, está na região de Maule. Também há 19 desaparecidos. Ainda não há informações sobre brasileiros entre as vítimas.
Os estragos ainda não foram avaliados.
Segundo o iratiense, Avonir Funes que continua hospedado com sua esposa Elenice Glinski no Hotel RQ Bosque Tobalaba, no Bairro Providência, em Santiago, o estrago não foi tão grande na capital. “Estávamos dormindo no Hotel, 7º andar e de repente acordamos com tudo sacudindo, caindo e um barulho estranho e intenso. Minha mulher achou que era uma tempestade e começou a gritar, levantei com dificuldades, pois o hotel balançava muito, fui até a janela e vi muitos objetos caindo dos edifícios, ai percebi que era um terremoto e corremos. Vestimos o que tinha pela frente e saímos pelas escadas no escuro”, discorreu Avonir.
O terremoto que durou aproximadamente um minuto devastou as cidades do Chile, destruindo prédios, casas e comércios. O maior terremoto já mensurado por instrumentos até hoje no mundo ocorreu no dia 22 de maio de 1960, no Chile, quando um tremor de 9,5 graus de magnitude causou a morte de mais de duas mil pessoas. “Parecia que não tinha fim, o prédio balançava muito, era difícil ficar em pé, quando chegamos embaixo (no térreo), havia muita gente. Em seguida, começou a confusão, com sirenes de todo o lado, carros de bombeiros e polícia. Todas as pessoas estavam na rua, no escuro, não tínhamos noção da gravidade do ocorrido”, contou Avonir.
A comunicação ficou comprometida por causa do sismo, não havia energia elétrica. O casal só pode retornar ao quarto do hotel por volta das 7h da manhã. Diversos pontos da cidade ficaram sem luz e os vôos para o Brasil, cancelados. “Os comentários dos chilenos que já estavam acostumados com esses abalos, era de que nunca tinham visto igual, há anos não ocorria um terremoto tão forte. As noticias ruins não paravam de chegar. Tudo estava fechado e nada funcionava. Não sabíamos o que fazer e nem onde se informar”, disse o casal.
No primeiro dia da tragédia permaneceram no bairro, pois, não havia transporte. Somente no domingo (28) que puderam pegar o metrô que já estava funcionando, e foram até a Embaixada e ao centro da capital. A partir daí puderam ver de perto os estragos que o terremoto causou – muitos edifícios com rachaduras, pedaços de construção no chão, vidros quebrados, áreas interditadas. “No sábado tivemos dificuldades para se alimentar, tudo estava fechado, já no domingo alguns mercados abriram e pudemos aproveitar para comprar mantimentos. Na periferia algumas pessoas estão saqueando mercados (foram presas até o momento 160 pessoas). Além do que, as pessoas que estavam hospedadas em alguns hotéis do Chile e tiveram sua reserva terminada estão tendo que sair, muitos estão sem condições financeiras para pagar hotel e alimentação”, afirmou.
Avonir comenta ainda que devido a essa ocorrência e de não conseguirem retornar ao Brasil, a previsão de gastos extrapolou, além do prejuízo de estarem perdendo dias de trabalho.
Na embaixada o número de turistas, segundo eles, é de aproximadamente cinco mil. “Só a Tam tem dois vôos diários, segundo eles, são 500 passageiros embarcando por dia. Não estamos tendo nenhuma ajuda do governo, nem da Tam e, na embaixada ainda dizem que não tem previsão para restabelecer o aeroporto e que não tem nada de avião da FAB para resgatar os brasileiros”. Revoltado com o Brasil, Avonir declara que o país e o povo chileno são melhores que o Brasil e brasileiros, pois, segundo ele, são educados e solidários. “Em nenhum momento nos sentimos desamparados aqui, só quando buscamos o governo brasileiro, este sim, uma grande decepção”,diz.
Avonir reclama ainda que o Brasil está transmitindo noticias falsas quando diz respeito ao envio de ajuda aos brasileiros - “Aqui, a verdade, não temos ajuda, a embaixada só atendeu o telefone um dia depois do terremoto e nada fez, anotou nossos nomes, disse que a FAB não mandaria avião nenhum, e nos mandou embora”, decepciona-se.
Durante a entrevista, Avonir e a esposa acompanham as noticias pela televisão há espera de ajuda, onde relatam em seguida que a força aérea colombiana estava mandando um avião com chilenos e indo resgatar os colombianos. “E o Brasil? Nada! Vou ligar daqui a pouco novamente na embaixada para verificar, mas, já perdi a esperança”, conclui Avonir.
Na terça feira (2), Avonir informou que o dia de retorno previsto segundo a TAM é 8 de março, porém, o casal esta com a intenção de fazer outro itinerário, seguir via terrestre até Buenos Aires.
Chileno reside em Irati
O Chileno, Mauricio Alejandro Contreras Java, de 38 anos que reside na cidade de Irati há 14 anos e trabalha como garçom conta que entrou em contato com sua família na cidade de Valdivia, no Chile.
“Me preocupo com minha família, conversei com eles pela internet e me disseram que estão bem, agora tenho amigos que residem em outras regiões como Santiago, no sul do país, no norte”, conta Mauricio Alejandro.
Mauricio Alejandro revela ainda que durante o tempo em que viveu no Chile passou por vários tremores de terra. As crianças nas escolas são preparadas a agir e se organizar com este tipo de abalo, como: terremoto, incêndio, etc. Elas fazem um treinamento dentro da escola, segundo ele, é uma cultura, como quem mora onde tem neve, chuva. “As construções são feitas para isso, eles reforçam as estruturas, as casas lá, por exemplo, de dois andares tem uma parede de até um metro de largura. Devido a isso, o país tem um planejamento de reestruturação. Graças a Deus que aqui no Brasil não temos isso”, diz.
Mauricio acredita que tudo isso que está ocorrendo é culpa do próprio ser humano. “Há vinte anos atrás fomos avisados sobre os problemas com a camada de ozônio, os cuidados que devíamos ter preservando a natureza, mas, não foi feito nada. Todas essas tragédias no mundo são consequências. Tudo mudou, o tempo, o clima, eu acho que a nossa cultura e a nossa cabeça também tem que mudar, enquanto criação de produtos, serviços, forma de pensar e de agir e até a nossa linguagem, pois perde-se tempo com “conversas” que não levam a nada. Acho estranho aqui no Brasil, quando chove as pessoas se bloqueiam, não vão trabalhar, não vão estudar, deixam de criar, de produzir”, conclui.
Texto: Silvia Costa, da Redação
Fotos: Avonir Funes, Elenice Glinski.
Nenhum comentário:
Postar um comentário