Um inquérito aberto pela Delegacia Regional de Imbituva, subordinada à 13ª Subdivisão Policial, com sede em Ponta Grossa, investiga a morte da dona de casa Edina Pereira Lopes, ocorrida em 2 de junho deste ano. A família desconfia de erro médico. O delegado presidente das investigações, Agostinho Mussilini Júnior, já recebeu autorização da Justiça Estadual para exumar o corpo. Ele oficiou a Polícia Científica do Paraná e aguarda a confirmação de data por parte de peritos do Instituto de Criminalística e do Instituto Médico Legal para realizar os exames no cadáver. A expectativa da autoridade policial é pela divulgação do resultado do laudo, que deve demorar até 30 dias.
Com 32 anos, residente na localidade de Água Branca, em Guamiranga, na região dos Campos Gerais, casada e mãe de uma criança com menos de dois anos, Edina internou-se no Hospital São João de Santa Cruz, em Imbituva, no dia 26 de maio, para se submeter a uma cirurgia de método contraceptivo (laqueadura tubária). Ao final da operação, com tempo de duração de aproximadamente 45 minutos, a mulher começou a sentir mal, segundo informou a irmã Marilda Pereira Lopes. "Ela reclamou de dores do lado direito da barriga imediatamente quando chegou ao quarto. Disse ter saído assim do centro cirúrgico e que a crise foi aumentando", relata.
O sofrimento de Edina, segundo Marilda, continuou durante a madrugada, sem que algum profissional do hospital a atendesse. Uma enfermeira chegou a ligar para o médico Dionísio Retchesk Júnior, responsável pela operação, e este, por telefone, prescreveu medicamentos, informando que as dores seriam normais. Pela manhã a paciente começou a soltar pela boca um líquido esverdeado e não conseguia realizar as necessidades fisiológicas. Estava muito fraca, falava baixinho e continuava reclamando. A pedido da família, funcionários o hospital tentaram novo contato com o médico, mas não o localizaram. Ele apareceu à tarde, para cumprir expediente.
"Numa conversa com a minha irmã e o meu cunhado, Dionísio disse que as dores eram normais, explicando que o corpo entendia que estava em trabalho de parto. Comentou que laqueadura era até mais dolorida que a cesariana e por isso as cólicas sentidas por Edina eram normais", conta Marilda. Sem realizar um exame mais detalhado para diagnosticar o problema, o médico recomendou à mulher para que andasse pelos corredores do hospital. "Conforme o doutor, assim ela liberaria os gases e diminuiriam as dores, afirmou que estava tudo bem e que não via necessidade de realizar outro tipo de exame", complementa a irmã.Edina recebeu autorização médica para voltar para casa, no dia 28 de maio, mesmo com as fortes dores. O estado
de saúde da mulher, sustentam os familiares, agravou-se ainda mais, ensejando um novo internamento nesta mesma data e no mesmo hospital. "Dessa vez ela foi atendida
pelo doutor Márcio Flores Martins, que nem chegou a examiná-la. Apenas olhou-a de longe, dizendo que a minha irmã tinha que ser forte e aguentar a dor e que a laqueadura doía mesmo", frisa Marilda. Em uma cadeira de rodas, a paciente foi orientada a voltar para casa, para continuar a recuperação.
Angustiado com o sofrimento da esposa, Gidalmo Vaz decidiu retornar ao São João de Santa Cruz no dia 30 de maio. Nessa ocasião, ela foi atendida pelo médico plantonista Alvanir Ambrósio. Esse profissional, de acordo com a família, diagnosticou, através de exames,que os órgãos da paciente estavam parando de funcionar, mantendo-a, por algum período, na sala de observação.
Não optou, porém, pelo internamento. O marido, nesse momento, quis transferi-la para outro hospital. Porém,teria de assinar um termo de responsabilidade, não aceitando. No dia seguinte, um anestesista informou à família que a Edina teria que passar por nova operação, num hospital de Irati. Ela foi entubada e transferida de ambulância para a Santa Casa, em estado grave. Chegou a ser operada, depois entrou em coma e morreu no dia 2 de junho, tendo como causa a falência múltipla dos órgãos, devido à perfuração intestinal durante cirurgia de laqueadura. "Tem sido muito sofrido para mim. O bebê dela também sofre. Eu estou criando o menino. É triste para uma mãe receber num caixão o corpo de uma filha que sempre teve muita saúde", descreve Desirte Moleta da Cruz Lopes.
Mulher teve o intestino perfurado
Durante a operação de laqueadura, Edina Pereira Lopes, 32, teve perfuração intestinal, com lesão grau II,segundo um documento assinado pelo médico Fabiano
Guimarães, de Irati. Esse ferimento provocou a infecção. "O doutor Fabiano falou que se houvesse sido diagnosticado a tempo o problema (a perfuração intestinal), Edina poderia estar mais forte, com os órgãos mais preservados, e a sua vida poderia ser
salva", comenta Marilda Lopes.Segundo Marilda, depois de ser operada, em Irati, pelo
médico Fabiano, a irmã recobrou a lucidez, voltou para o quarto e não se queixou mais das dores. Mas o quadro clínico voltou a piorar por volta das 23 horas do dia
30. No dia seguinte ela entrou em coma. Aproximadamente 48 horas mais tarde, após ser submetida a nova cirurgia,a mulher faleceu. "Quando ela entrou em coma o doutor
Fabiano comunicou a família sobre o risco de morte", conclui.
Família tem farta documentação
Dias depois do sepultamento de Edina Lopes, num cemitério em Guamiranga, a irmã Marilda Pereira Lopes e o marido da paciente, Gidalmo Vaz, registraram queixa na
delegacia de Imbituva, solicitando, ainda, a instauração de inquérito para apurar a morte supostamente provocada por erro médico.
O advogado da família, Fernando Madureira, do escritório Madureira & Correia, de Ponta Grossa, ouvido ontem pelo Diário dos Campos, disse ter encaminhado à autoridade policial farta documentação sobre este caso. O criminalista acredita que a exumação do corpo, para a confecção do laudo cadavérico, aconteça nos próximos
dias. "Está evidente que a paciente morreu por não ter recebido a assistência e nem acompanhamento necessário no pós-operatório da laqueadura", opina.
Médico não se manifesta
Durante a semana que passou o Diário dos Campos,reiterada vezes, procurou manter contato com o médico Dionísio Retchesk Júnior, responsável pela cirurgia de
método contraceptivo em Edina Pereira Lopes. Contatos foram feitos com o Hospital São João de Santa Cruz e na Divisão de Saúde da Prefeitura de Imbituva, onde ele
trabalha.
Na quinta-feira, o médico retornou a ligação para saber qual era assunto. Informado da abertura de inquérito pela Polícia, ele disse ter sido pego de surpresa pela
notícia. "Estou sabendo por você", frisa.Com o consentimento do próprio médico, o jornal fez as perguntas por e-mail, enviando-as ainda na quinta-feira.
Na sexta-feira, foi realizado novo contato com Dionísio, por telefone. Nessa oportunidade ele comentou que até aquele momento não havia aberto o e-mail, justificando.
O Diário dos Campos também procurou ouvir o diretor clinico do Hospital São João de Santa Cruz, João Tech Filho. Não o encontrou. Ele também não retornou as ligações.
Fonte: DC
A materia esta muito bem escrita, bem detalhada, serve como uma alerta a população, para que aqueles q passaram por casos como este busquem a Justiça, e que sirva de alerta também para os profissionais da área para que tomem cuidado e lembrem sempre de que estão cuidando de vidas, e que a vida e fragil e única.Parabém ao jornalista Mário Martins.
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